Nos últimos dias, uma coluna publicada no jornal O Globo, assinada pela bióloga Natalia Pasternak, reacendeu um debate polêmico sobre o uso de acupuntura em animais. A autora fez uma crítica contundente a práticas médicas alternativas e integrativas aplicadas em pets, especialmente a acupuntura, afirmando que tais tratamentos são “cruéis e antiéticos” e que não possuem base científica sólida. A reação, como esperado, foi imediata — e inflamou tanto profissionais da área veterinária quanto defensores de práticas integrativas.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) foi um dos primeiros a responder publicamente, emitindo uma nota de repúdio, compartilhada em suas redes sociais. Na nota, o CRMV-RJ classificou a coluna como desinformativa, defendendo a acupuntura como uma prática ética e respaldada por especialistas da área veterinária.
No post, o conselho classificou as declarações de Pasternak como “absurdas”, e reiterou que a acupuntura veterinária possui respaldo profissional e pode ser uma alternativa válida no tratamento de vários problemas de saúde em animais.
CRMV-RS Também Entra na Discussão
Não foi só o CRMV-RJ que se manifestou. O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) também divulgou uma nota de repúdio, ecoando as críticas ao texto publicado por Pasternak.
A defesa é clara: para os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária, a acupuntura é uma prática reconhecida, utilizada com frequência por veterinários especializados e que pode trazer benefícios concretos aos animais, especialmente em casos de dor crônica e problemas articulares.
Ambas as instituições enfatizam que a acupuntura, além de ser um tratamento supervisionado por profissionais formados e capacitados, é aplicada em animais por médicos veterinários com especialização. Isso inclui um profundo conhecimento da anatomia animal e das técnicas adequadas para evitar qualquer tipo de sofrimento desnecessário, contrariando o argumento de que a prática seria “cruel”.
A Base Científica da Acupuntura em Animais: O Ponto de Tensão
O ponto central do debate parece ser a questão da evidência científica. Pasternak baseia sua crítica no argumento de que não existem estudos sólidos o suficiente para comprovar a eficácia da acupuntura em animais, posicionando a prática no mesmo nível de outras terapias alternativas que ela considera sem embasamento.
Segundo a autora, práticas integrativas como a acupuntura funcionam, no máximo, através de um efeito placebo — algo que, segundo ela, não faz sentido em um animal, já que estes não possuem a capacidade de “acreditar” ou entender o tratamento.
Por outro lado, os defensores da acupuntura veterinária argumentam que há, sim, uma base crescente de estudos e casos clínicos que comprovam a eficácia da prática em determinadas condições.
Para muitos veterinários, a acupuntura pode ser uma solução menos invasiva e mais natural para problemas como dores crônicas, artrite, e até distúrbios gastrointestinais.
O fato de a prática estar integrada em várias clínicas veterinárias e ser amplamente recomendada para certos tipos de condições médicas levanta a questão: até que ponto a crítica à acupuntura é realmente sobre a falta de ciência, e não uma resistência a práticas alternativas?
Charlatanismo ou Medicina Integrativa?
O debate se acirra ainda mais quando consideramos que a própria ciência ainda está em processo de investigação das terapias alternativas.
É verdade que há uma carência de estudos amplamente divulgados e com grandes amostragens, mas isso necessariamente invalida a prática? Para muitos veterinários e tutores de animais, a resposta é não. A acupuntura, aplicada por profissionais experientes, é frequentemente vista como um complemento aos tratamentos tradicionais, e não como uma substituição completa.
Enquanto Natalia Pasternak defende que a ciência é o único caminho para um tratamento ético e eficaz dos nossos pets, os conselhos de medicina veterinária acreditam que há espaço para práticas complementares, desde que aplicadas por profissionais capacitados.
Conclusão: O Futuro da Acupuntura Veterinária
A polêmica sobre a acupuntura em animais está longe de acabar. A coluna de Natalia Pasternak e as reações subsequentes dos CRMVs mostram que a tensão entre ciência tradicional e terapias alternativas continua a gerar debates acalorados.
Afinal, até que ponto a prática da acupuntura deve ser vista como uma aliada da medicina veterinária? A crítica é válida, mas os benefícios relatados por muitos veterinários e tutores indicam que o assunto merece ser discutido com seriedade e abertura.
Por enquanto, a acupuntura veterinária segue dividindo opiniões, e a decisão final parece ficar, como sempre, nas mãos dos tutores e dos profissionais que cuidam dos nossos companheiros de quatro patas.